Convergência digital fará a grande virada da inovação aberta

A programação do Futurecom Digital Series começou nesta terça-feira em evento virtual e gratuito que reúne especialistas do mercado, representantes do Governo e instituições ligadas ao agronegócio para debater sobre o impacto das novas tecnologias no setor. A abertura contou com o secretário de Empreendedorismo e Inovação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTIC), Paulo Alvim; o diretor de Inovação do Ministério do Ministério da Agricultura, Cleber Soares, e o diretor do Futurecom, Hermano Pinto.

Todos foram unânimes em destacar a transformação digital como estratégia de negócios, que acabou sendo impulsionada pela pandemia. “As relações de trabalho mudaram, o e-commerce cresceu de maneira significativa e as contratações em TIC aumentaram, se comparadas com outros setores. Para este tipo de atividade, a pandemia deixou um legado positivo”, afirma Paulo Alvim.

Pesquisas recentes mostram que a tecnologia está cada vez mais presente no agronegócio. Segundo estudo realizado pelo Ministério da Agricultura em parceria com a Escola Superior de Agricultura Luis de Queiroz (Esalq), 94% dos produtores rurais brasileiros possuem telefones celulares – destes, 68% são smartphones. De acordo com Cleber Soares, a transformação digital veio para ficar, independentemente do padrão social. “Atualmente, mais de 37% dos produtores utilizam plataformas, sistemas, aplicativos e mídias sociais para fazerem negócios”, destaca.

Outro dado que aponta para um agronegócio cada vez mais digital é o número de startups que surgem direcionadas para este segmento. Segundo o diretor de Inovação do Ministério da Agricultura, o radar AgTech registrou 1.125 agtechs no Brasil em 2019. A próxima edição 2020/2021 mostrará que este número saltou para 2.402, o que reflete o potencial de adoção de novas tecnologias “antes, dentro e pós porteira”.

Para Paulo Alvim, a Internet das Coisas (IoT) viabilizará outras tecnologias que atuarão em conjunto para criar produtos e serviços. “Este é o século XXI, que traz mais  tecnologia e capacidade de resposta. O futuro está à nossa frente”, diz o secretário de Empreendedorismo e Inovação do MCTIC.

Cleber Soares ressalta como a atualização do conhecimento e da tecnologia acontece de forma cada vez mais rápida, de anos para meses e agora segundos. Ele acredita que a computação quântica será o novo paradigma da digitalização. “Já existem pilotos de computação holográfica que atuam com gêmeos digitais para prever o momento exato de ataque de uma praga, por exemplo. A convergência da ciência e do digital fará a grande virada da inovação aberta.”

Potencial brasileiro

O aumento da capacidade de produção de alimentos do Brasil e a melhoria exponencial da qualidade dos alimentos foram dois focos do debate do painel “Revolucionando o Agronegócio através do uso de novas tecnologias: Eficiência, produtividade e rastreabilidade ao longo da cadeia produtiva”. Marcelo Prado, diretor da MPrado Consultoria, mediou o painel e ressaltou o resultado de estudos da Embrapa, que revelam a capacidade atual do País em alimentar 800 milhões de pessoas no mundo a partir da produção local. “Com o nosso potencial de crescimento no agronegócio, nos próximos dez anos vamos alimentar entre 1,2 e 1,3 bilhão de pessoas.”

O otimismo no setor se estende às opiniões dos outros painelistas, Gustavo Lunardi, diretor de operações da SLC Agrícola; e José Marcos Magalhães, presidente da cooperativa Minasul, principalmente pelas possibilidades abertas por tecnologias como machine learning, inteligência artificial e 5G. Para Lunardi, “já com a conexão 4G oferecida por operadoras e provedores de serviços, há um leque grande de aplicações que agregam grande quantidade de dados e os transformam em informações inteligentes que contribuem para a tomada de decisão dos produtores”. “Quando tivermos o 5G em plena operação, a produção desde o manejo das sementes, a rastreabilidade, a segurança do alimento, a logística, a gestão, a sustentabilidade, tudo será mais eficiente e produtivo.”

Para Magalhães, da Minasul, é inegável que a gestão do grande volume de dados gerados pelos produtores e empresas aliada à conectividade do 5G dará ao Brasil um grande impulso a novas tecnologias e soluções que aceleram as decisões mais rápidas e aderentes às tendências mundiais. “Acesso à tecnologia é uma grande oportunidade aos produtores, em especial aos pequenos e médios que formam 85% da nossa cooperativa”, afirma. “Enquanto cooperativa, é nossa responsabilidade formar os cooperados, pois informação sem formação não é muito útil. Por isso, mostramos o valor que a tecnologia agrega ao agronegócio e isso faz que a adesão às soluções aumente.”

Soluções atuais
Como exemplo de aplicações de tecnologia baseada no uso inteligente dos dados, o painel mostrou alguns casos que já tornam as lavouras mais produtivas e sustentáveis no País. É o caso da pulverização das plantações para controle de pragas, tanto no modo terrestre quanto aéreo. Na pulverização terrestre ferramentas de georreferenciamento orientam o produtor a aplicar defensivos somente onde o ataque de pragas é detectado, o que se mostra uma boa prática do ponto de vista ambiental e sustentável. No caso da pulverização aérea, pode-se corrigir em tempo real falhas de aplicação de defensivos em algumas áreas, por exemplo.
Outro exemplo de uso da tecnologia e conectividade no campo citado no painel são as plataformas de coleta de dados de produtores que usam machine learning e inteligência artificial para agregar informações mundiais de produção, preços em bolsas de valores em vários países e outros dados que orientam os produtores sobre como administrar seus negócios. Por tudo o que o agronegócio já proporciona em divisas para o país, Marcelo Prado observa que “hoje o Brasil é o país mais competitivo no agro e, por isso, não podemos nos acomodar no êxito”. “É importante que saibamos manter o foco e trabalho para continuarmos colhendo os resultados que conquistamos.”

Business case

O último painel do primeiro dia do Digital Series trouxe a apresentação de uma parceria da Ericsson e São Martinho. Walter Maccheroni, gestor de Inovação da São Martinho, aponta as vantagens que o 5G trará ao negócio, tais como aumento da capacidade de processamento de dados, mais segurança e robustez no acesso e manuseio das informações. “Nossa intenção é utilizar mais sensores nos equipamentos de produção de açúcar e etanol com o objetivo de monitorá-los e criar algoritmos que consigam entender como esses equipamentos estão funcionando. Queremos armazenar mais dados e, através deles, realizar análises preditivas. Antes que um equipamento quebre, receberemos indicadores que permitirão uma atuação rápida e preventiva.

Para Paulo Bernadocki, diretor de Tecnologia da Ericsson, o potencial de transformação do 5G é enorme. “O 4G conecta as pessoas. Com a tecnologia de quinta geração, vamos conectar as coisas em um nível de automação jamais alcançado. A partir do momento que toda essa informação começa a ser levada para a nuvem, onde os algoritmos poderão rodar rapidamente e gerar insights para os agricultores, isso será revolucionário”, finaliza.